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domingo, 10 de janeiro de 2010

Dar cor

"Dupla delícia: o livro traz a vantagem de a gente poder estar só e ao mesmo tempo acompanhado" (Mário Quintana, Do Carderno H)
Maratona para os olhos é a leitura. Já pensou quanto que o globo ocular corre sobre as palavras, enquanto lemos? Lembra o movimento das quase póstumas máquinas de escrever: vaaaaai e (plim!) vem! Vaaaaai e (plim!) vem! Vaaaaai e (plim!) vem!

É preciso prática para descer até a próxima linha. Só olhos experientes seguem para a linha de baixo sem ao menos dar uma olhadela na linha de cima. Você já leu a linha de cima pensando que fosse a linha de baixo? Quando criança, sempre seguia as linhas com os dedos, mas a tia da escola não gostava. Dizia que era feio. E, ainda naquele tempo, meu sonho era ler como o Etevaldo. Como ele conseguia ser tão rápido?

Mas hoje acho besteira; bom é aproveitar ao máximo a temporada ao lado do livro. Ler bem devagar, pau-sa-da-men-te, antes que ele acabe. Afinal, tudo que é bom dura pouco e o tête-à-tête com as letras não é diferente. Como o léxico deitado em uma folha pode transformar-se em coisas tão belas? Boas histórias têm disso: dão cor; mas não precisam ser grandes aprendizados. A simples distração já é um elemento fundamental para a leitura.

quarta-feira, 18 de novembro de 2009

Cavaleiro do século XXI


Mesmo com tudo indicando o caminho contrário, sentia-se um cavaleiro medieval. Nobreza real não existia; tampouco castelo ou feudo. Morava em um quarto-sala-cozinha perto da Xavier de Toledo, em direção ao Largo da Memória. Não tinha espada, armadura ou escudo. O máximo que possuía era um boné, seu elmo que o salvara tantas vezes do forte sol do meio-dia.

As batalhas diárias não eram para proteger rei algum. A luta era, sim, pela sobrevivência. Segurar o aluguel mais um mês, pagar o Dedé da lanchonete, conter o sono. Sono, não sonho. Apesar do mal que fazia viver na irrealidade, sonhar era do que gostava. Imagina-se conquistando a Terra Santa. Imaginava-se, constantemente, apoderando-se do coração da princesa amada. Ele, por vezes, era um sapo.

De repente, berrou o despertador. Mais parecia o berro de um dragão. Fazia que o ônibus fosse seu cavalo e cavalgava em direção ao trabalho.

Portão. Bilhete Único. Catraca. Bocejo. Relógio de ponto. Trabalho...
Trabalho. Relógio de ponto. Bocejo. Bilhete Único. Catraca. Portão.
Lembrou-se do pai, também cavaleiro. Recordou-se de tudo que ele o ensinara: valentia, fidelidade, lealdade. E conclui que, para os cavaleiros do mundo moderno, não era preciso tanto. Artimanha, malícia e jogo de cintura bastavam.