terça-feira, 30 de novembro de 2010

A caçada de Valdemorte



- Ô cabra ruim... Tu, tu mesmo, cabra de peia! - disse o cangaceiro armado até os dentes, apontando para um sujeito que estava no balcão do boteco - Oxi que eu tô todo reado e tô necessitado de uma informação, seu marreteiro!

Valdemorte chegou feito um bicho no boteco. Arrastou tudo que viu pela frente e rapidamente puxou o cabra que tomava um gole de cachaça no balcão. Deu-lhe um coice de mula parida e olhou nos olhos do infeliz, que retrucou:  

- Marreteiro não, cabra do diabo! Que coisa é essa? O que tu queres, bicho ruim? - disse-lhe o cabra que bebia a cachaça - Tu és matuto e chega pensando que manda em mim? Xispa daqui!

- Tu sabes com quem tá falando? - perguntou Valdemorte ao cabra.

- Isso quem pergunta sou eu, abestado... Tu sabes com quem tá falando?! Pois Virgulino foi meu parente e o sangue do cangaço corre nas minhas veias, oxente!

- Avalie só que o cangaço também corre junto do meu sangue. Sou Valdemar, mas todos da minha terra me chamam de Valdemorte. E ai do desgraçado que cruzar o meu caminho, que eu faço jus à minha alcunha!

- Arre, cabra ruim, mas é melhor tu falares logo o que queres e sumir da minha frente, senão eu te furo todinho! - o cabra ficou nervoso e o copo da cachaça já estava vazio. Valdemorte foi logo se adiantando, pois não queria perder nem mais um minuto e, então, avançou-se na toda para o assunto:

- O negócio é o seguinte, homem... Eu tô atrás de um moleque dos diachos que me armou uma botada. Desonrou a minha filha e ainda deu o pinote com o meu gado. Eu tô atrás desse filho de uma égua aqui pela região tem três dias.

- Vixe Maria...

- E já vou logo dizendo que se aquele desgraçado trabalhar pro Zé Calango não vai sobrar uma alma viva aqui nesse sertão!

- Oxente que Zé Calango é inimigo meu. E inimigo de inimigo, pra mim, é aliado. Fala mais desse tal moleque dos diachos!

- Ah, que esse desgraçado vai sentir o gosto da minha carabina. Minha vontade é de deixar esse cabra de peia caído nos ferros - Valdemorte ajeitava o cinturão e desenhava movimentos no ar com a peixeira que carregava nas mãos -. Quando eu encontrar esse moleque, dou-lhe uma lapada que ele nunca mais vai voltar a perturbar a minha família! E deixo mais uma cicatriz naquela cara de jegue catinguento!

- Mais uma, é? O desgraçado tem outra cicatriz na fuça?

- Qui só! O cabra ruim tem uma cicatriz de tiro na testa. Aquilo ali deve ter sido ferro do bom que acertou. Pena que ele já não empacotou de vez quando lhe acertaram com o tiro.

- Rapaz, que eu vi um moleque com uma cicatriz na testa. Passou hoje mesmo, vexado, por essas bandas.

- Mas então é hoje que esse lazarento vai pro inferno!

Valdemorte se adiantou em direção à caatinga. Cavoucou o chapéu de couro na cabeça e seguiu em busca do desgraçado, a procura de vingança ou um pouco de sorte. E perdeu-se em terras outrora percorridas por Lampião. 

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