quinta-feira, 22 de julho de 2010

Do lado de fora


Minha janela é grande e daqui do meu apartamento dá para ver tudo que tem do lado de fora. Vejo a cidade e é como se ela estivesse completamente no meu poder. Mesmo em frente a um cartão postal, a paisagem que a minha janela dá não me agrada. Não faz parte da minha realidade. existem ruas nunca desertas enquanto aqui dentro - dentro de mim - só penso no sossego. Aqui existe uma estrada de terra a ser descoberta, onde o cruzamento dela não é alcançado pelos olhos; há cavalos nas ruas, há felicidade vista no final dos filmes, há olás familiarizados em cada esquina. só se vive no barulho. há ruas cheirando piche, há máquinas imóveis perdidas no mar de luzes vermelhas do tráfego, há amor apressado e mal aproveitado, há o anonimato que divide o mesmo espaço.

Aqui. . Dois mundos distintos separados por uma janela.

Aqui é muito menor do que . está em mapa com escala cheia de zeros. Aqui é cheio de vazio, como o simples bolso da minha camisa de gola. Aqui é limitado por paredes. dizem ser brechas, ser gente circulando por todos os cantos, sem tijolos que limite as vias.  dizem ser o livre. Engano. é lotação e solidão. Aqui é vago e presença. A liberdade está aqui. Aqui dentro. Como posso viver cara a cara com o cenário do lado de fora que demonstra ser o que não é?

Prefiro aqui. Nesses ares, que são espremidos vistos pelos ângulos dos desenganados, respira-se confiança. Aqui é honestidade. já não se respira, não se enxerga o que tem base sólida e mútua. a visão é tampada por camadas de lixo e fumaça. E, mesmo assim, com paredes e aparente espaço restrito, aqui é meu lugar. Afinal, só o corpo ocupa o pouco espaço. Do lado de dentro - daqui - há a pureza, a liberdade, a verdadeira vastidão. Do lado de dentro de mim eu estou em casa.

Feche a cortina.

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